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Monday, June 15, 2009

Chuva

Era uma vez um menino. Um menino de olhos verdes que gostava de chuva. Sempre que via uma nuvem mais cinzenta, o menino desejava que chovesse. Como gostava de sentir as primeiras gotas a cair. O som que faziam a tocar a terra. O primeiro cheiro a pó húmido. E depois o cheiro a terra molhada. O menino gostava de ver a chuva a transformar a paisagem. Mas do que o menino de olhos verdes mais gostava era de sentir a chuva no corpo. Sentir as gotas a tocarem a pele e escorrerem pelos braços abaixo. Dançar à chuva era tudo o que o menino de olhos verdes precisava para ser feliz.

Monday, June 8, 2009

Estrela

Obrigada pelo Sol e pelo vento,
pelo azul do firmamento
e pela estrela que há em mim.
Obrigada pelo tempo que passou,
pelos passos, pelo vôos
e pela estrela que há em mim.

Obrigada por esse brilho no olhar,
por essa chama que me queima
e pela estrela que há em mim.
Obrigada pela estrada percorrida
por esse dom, por essa vida
e pela estrela que há em mim.

Obrigada pelo sorriso de criança,
pela saudade e a lembrança
de alguma estrela que brilhou.
Obrigada pela presença que não passa,
pela esperança que me abraça
pelo silêncio que há em ti.

Obrigada por essa voz que em mim habita,
por essa mão que necessita
de outra mão que saiba amar e ser feliz.
Obrigada por esse adeus que é boa-nova,
por esse olhar de boas-vindas
pela estrela que ainda brilha no meu céu.

Margem

Não fiques na praia com o barco amarrado
e medo do mar.
Tudo aqui é miragem, mas na outra margem
há alguém a esperar.
Como onda que morre sozinha na praia
não fiques brincando.
No mar confiante ensina teu canto
de ave voando.

Voa bem mais alto, vive sem alforge
nem prata nem ouro.
Amando este mundo, esta vida que é campo
que esconde um tesouro.

Ninguém te ensinou mas no fundo sentes
asas para voar.
Nem que o céu se tolde e as nuvens impeçam
tu não vais parar.
Há gente a viver tranquila e contente
como eu já vivi.
És águia diferente céu azul,
cinzento foi feito para ti.

Saturday, June 6, 2009

Ocidental

Era uma vez uma flor. Uma flor pequenina, branca, de caule longo. Essa flor vivia nas arribas da praia, junto a outras flores iguais a ela. No Inverno, enfrentava os ventos e vendavais marítimos. A fúria do mau tempo. As chuvas torrenciais. E tudo aguentava. No Verão, suportava o calor escaldante. A falta de água. O vento quente. Todos os dias, escapava às mãos e aos pés dos humanos que passavam perto do local onde vivia. E a tudo sobrevivia. Um dia, olhou em volta e viu que estava sozinha. Não mais se viam outras flores iguais a ela. Estava só. Chorou. Definhou. E entregou-se ao vento.

Friday, June 5, 2009

Eterno

Era uma vez um caso de amor. Um caso de amor entre o mar e a areia. Desde o princípio dos tempos que o mar encontrou a areia. Desde o princípio dos tempos que a areia encontrou o mar. E desde então nunca mais se largaram. O mar pode ser intempestivo, inquieto, ansioso. A areia pode ser suave, paciente, tranquila. O mar pode ser calmo, sereno, constante. A areia pode ser irregular, imprevista, volúvel. O mar e a areia amam-se nos braços invisíveis um do outro. São inseparáveis. Por vezes o mar precisa tanto da areia que a leva para junto de si. Leva-a para o seu interior. Deixa a praia nua. E amam-se ainda mais. Com mais fervor. Com mais paixão. Com mais amor. Um amor tão grande é inquebrantável. Por vezes o mar precisa do seu espaço e afasta-se um pouco da areia, deixando-a enorme e ficando lá ao fundo, no seu canto. Mas volta sempre. Há amores que nunca morrem.

*Estória inspirada aqui.

Thursday, June 4, 2009

Supernova

Era uma vez uma estrela. Uma estrela que brilhava como tantas outras estrelas brilhavam no Universo infinito. Mas a estrela estava convencida que brilhava menos que as suas amigas estrelas. O seu desejo era ser a estrela mais brilhante do céu e que a sua cintilação fosse vista longe, muito longe. Ao longo dos séculos foi atraindo matéria que vogava no espaço à sua volta. Ao longo dos séculos foi incorporando essa matéria no seu interior. Ao longo dos séculos foi crescendo. E conforme crescia, mais brilhante ficava. Um brilho amarelo, vibrante, emitia. Mas a estrela, como queria ainda ser mais brilhante, continuou a queimar o hélio e o hidrogénio de que era feita para tanto brilhar. A certa altura, vários milhares de anos depois, a matéria que a constituia, de tão quente que estava, começou a fazer com que a estrela inchasse e fosse, gradualmente, mudando de cor. Passou de um amarelo reluzente para um laranja cintilante e, por fim, para um vermelho excitante. Mas a estrela queria mais brilho. E mais. E mais. Até que um dia explodiu. Explodiu numa maravilhosa supernova. Emitiu luz como nunca tinha emitido. Mostrou cores como nunca tinha mostrado. Brilhou como nunca tinha brilhado. Por um breve instante, a supernova foi a estrela mais brilhante do Universo. E num instante morreu.

Wednesday, June 3, 2009

Estação

Era uma vez uma menina que gostava de comboios. Todas as tardes, depois das aulas, corria pelos campos amarelos de Verão e chegava aos limites dos carris. Sentava-se e aguardava. Quieta, atenta, esperava pelo primeiro som. O primeiro som que indicava que o comboio se aproximava.
Quando os carris começavam a vibrar com o movimento, também a menina vibrava de ansiedade. Em antecipação. Quando o comboio aparecia na curva distante, a menina começava a esticar as pernas, deitava-se de costas e afastava os braços do corpo. De olhos fechados, aguardava a passagem do comboio. Forte, telúrico, inebriante.
Com o corpo colado à terra, a menina sentia cada átomo de si a absorver o comboio. Sorria. E sonhava. Sonhava com o dia em que, no fim da linha, alguém a abraçaria e lhe diria «bem-vinda a casa»...

Tuesday, June 2, 2009

Água

Era uma vez uma gota de água que vivia numa folha de castanheiro. A gota de água estava sozinha, mas queria saber se existiriam mais gotas de água como ela. Olhou em volta e viu outras gotas de água noutras folhas de castanheiro. Ficou a pensar qual seria a melhor maneira de ir ter com as outras gotas de água, pois não gostava de estar sozinha. Mas não havia meio de arranjar uma solução para o seu anseio. Todo o dia pensou, à sombra de outras folhas de castanheiro. Mas a conclusão nenhuma chegou.
Entretanto a noite caiu e a gota de água, de tão cansada que estava de tanto pensar, adormeceu. No dia seguinte, quando acordou, qual não foi o seu espanto quando viu ao seu lado outra gota de água. Olhou para ela e sorriu. Não mais estava sozinha.

Monday, June 1, 2009

Um dia de calor

Era uma vez duas meninas. A Marta e a Maria.
Marta e Maria são as melhores amigas do Mundo. Conhecem-se desde o tempo em que ainda estavam nas barrigas das mamãs. Nasceram com dois dias de intervalo, por isso Marta gosta de afirmar alto e a bom som que é mais velha que Maria. Andaram na mesma creche, no meu infantário. Andam na mesma escola, na mesma turma. Marta e Maria são inseparáveis. Conhecem-se como ninguém. Sabem os segredos uma da outra, as alegrias, as mágoas, as euforias, as tristezas, os sonhos.
Gostam de correr no prado verde vibrante que se estende à saída da povoação onde vivem. Gostam de correr até ao limiar do bosque que se ergue no extremo do prado. Gostam de sentir os pés nus nas ervas. Gostam de sentir o vento nos cabelos soltos. Gostam de abrir os braços, fechar os olhos e imaginarem-se a voar.
Depois, deixam-se cair nas ervas. Respiram fundo. Olham para o céu. Deixam o sol entrar-lhes na pele. Olham uma para a outra. Sorriem. E são felizes.